TRABALHO COMO FORMA DE DEPENDÊNCIA
Resumo
Há quem tenha um corpo, sem dele ter perfeita consciência. Nem todos fazem por merecer o seu corpo. Talvez tivessem sido privados sensorialmente de o fazer desde os primórdios. Daí a relação que estabelecem com o seu corpo ser de posse e não de conhecimento íntimo. Deixar que ele se cale e se submeta, é permitir a activação insidiosa dos mecanismos não só da dependência, mas também do stress e da somatização!
O corpo livre e inteligente apreende, cria significados, desdobra-se intencionalmente no espaço e no tempo. Fixando-se rigidamente nos movimentos necessários à sobrevivência do organismo e da espécie, como no caso dos animais, corre demasiados riscos.
Situados num ambiente cultural, mais ou menos rico de acontecimentos, precisamos de ter à nossa disposição um amplo leque de possibilidades motoras e intelectuais para a realização das tarefas a que nos propomos. Assim alimentamos a nossa corporalidade.
Quando o trabalho nos torna dependentes renegamos essas possibilidades.
Ao negligenciar a sua corporalidade, o dependente do trabalho perpetua o seu sofrimento.
* Apresentação proferida no XX Encontro do Grupo Português de Psiquiatria Consiliar/Ligação e Psicossomática realizado em Leiria em Novembro de 2002 e subordinado ao tema "(IN)dependências"
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